Organizadoras
Andréa Lobo, Brazil, UnB
Anaïs Menard, Belgium, KULeuven Kezia Aryeetey, Ghana, Max Planck Institute for Social Anthropology
A antropologia feita sobre a África foi central para os desenvolvimentos teóricos e metodológicos da antropologia desde os seus primórdios. Desde então a disciplina tem sido constantemente repensada, bem como os cenários sobre os quais ela se debruça em compreender. No que se refere ao campo da antropologia da África, este vem contando com a expressiva presença de pesquisadoras e pesquisadores para além dos reconhecidos centros produtores de teorias, países da Europa e Estados Unidos.
Tanto em países africanos quanto a partir de um olhar da América Latina, sobretudo de antropólogos/as brasileiras/os, as abordagens antropológicas sobre e em contextos africanos têm se desenvolvido de formas particulares, diversas e em diálogo crítico com miragens e imagens associadas aos clássicos da disciplina. O que se observa é o esforço dessas/es pesquisadoras/es em construir diálogos disciplinares que tanto abordam a diversidade e a complexidade dos contextos africanos modernos, quanto reconheçam (ainda que criticamente) os efeitos da antropologia histórica no presente e no futuro do campo de estudo (ver Mudimbe 1988, 1990; Trajano Filho 2002; Moutinho, Trajano Filho e Lobo 2017). Embora as abordagens pós-coloniais tenham permitido que os pesquisadores examinassem as relações desiguais que estruturaram a produção do conhecimento antropológico no passado, as abordagens decoloniais recentes também permitem que eles pensem nesse legado, considerando as relações de poder de forma mais sistêmica (ver Deridder, Ménard e Eyebiyi 2022).
Tendo como referência essa diversidade de olhares e a complexidade dos debates etnográficos e perspectivas teóricas que conformam os estudos contemporâneos, propomos este dossiê com o objetivo de convidar antropólogas/os que realizam pesquisa sobre e em contextos africanos, nomeadamente da África subsaariana, a refletir, a partir de suas pesquisas etnográficas, sobre as continuidades e descontinuidades teóricas e metodológicas com o passado de nossa disciplina.
Com ferramentas metodológicas que devem muito às viradas pós-modernas e reflexivas, os estudiosos da antropologia se voltam agora para os cânones da disciplina percebendo-os como produtos de uma época. Somos capazes de rastrear os temas em voga, as abordagens teóricas, as origens e os gêneros dos pesquisadores, bem como os contextos históricos e os paradigmas científicos que moldaram as relações entre os pesquisadores e as pessoas com quem trabalham. Com os debates pós-coloniais, pós-modernos e decoloniais, cada um desses elementos constituintes das teorias clássicas foi submetido a um exame tão crítico que as estruturas da própria disciplina pareceram entrar em colapso. O “fim da antropologia” tornou-se um debate recorrente no meio acadêmico (ver Jebens e Kohl, 2011), não apenas devido ao seu desenvolvimento histórico ligado ao colonialismo, mas também porque a disciplina precisou adaptar sua metodologia e epistemologia às condições voláteis moldadas pela globalização, migração e a situação difícil da chamada “modernidade” – um desafio que os antropólogos enfrentaram coletivamente (e brilhantemente) até agora, apesar da autocrítica.
O impulso para uma maior reflexividade na antropologia também mudou a forma como os pesquisadores leem e analisam os textos. Os temas, as abordagens teóricas, os paradigmas e, acima de tudo, os lugares de onde os antropólogos falam (e leem) mudaram: origens nacionais, gênero, raça, classe social e geração – todos esses elementos desempenham um papel na formação de uma nova estrutura reflexiva e epistemológica. À medida que os pesquisadores refletem sobre o trabalho passado a partir de suas próprias lentes individuais, eles também “reformulam” ou “reinventam” a disciplina de acordo com os cânones atuais.
O que tais mudanças refletem na antropologia produzida sobre e em África nos dias de hoje? Quais as rupturas e quais as continuidades? Quais os diálogos possíveis com nossos ancestrais da antropologia? Quais as lições aprendidas? Quais as nossas contribuições a partir de tais diálogos? Quais os diálogos sobre África de antropólogas/os contemporâneas/os com autoras/es de outras áreas do conhecimento científico (sociologia, ciência política, relações internacionais, ecologia política, filosofia, literatura comparada, dentre outras). Concomitantemente, como podemos manter a especificidade da disciplina à luz de suas contribuições passadas? De acordo com Ingold (2008), é importante ter em mente que a antropologia não é etnografia. Embora a descrição etnográfica faça parte de seu núcleo, a antropologia não pode se limitar a etnografias localizadas. A antropologia visa compreender e teorizar as relações humanas e as sociedades como um conjunto de fenômenos imbricados e integrados. No campo, isso requer a aquisição de competência cultural (e linguística) e a descoberta do implícito na vida social por meio de observação aguda de longo prazo. Portanto, em um momento em que a “coleta de dados etnográficos” está surgindo como uma habilidade a ser adquirida em muitas ciências sociais, a antropologia precisa revisitar criticamente sua contribuição para a compreensão dos seres humanos e da vida social. Esta edição especial, portanto, nos convida a examinar mais de perto a contribuição contemporânea da disciplina, conforme ela evoluiu em relação ao conhecimento sobre a África.
Como afirma Sally Falk Moore (1996) cada nova geração de antropólogos se considera como transcendendo as concepções errôneas e grosseiras de um grupo anterior, como mais consciente de si mesma, como vendo o mundo com mais clareza. E parte dessa autocongratulação, embora com frequência excessivamente carregada de vaidade, é em geral bem fundamentada. A lógica da ciência baseia-se na premissa da renovação. O próprio processo de se rejeitar aqueles que nos antecederam e propor estruturas alternativas é o que impulsiona o campo de estudo e nos faz renovar.
Entretanto, apesar das falas por rupturas radicais, o que parece permanecer após as “grandes viradas” é a dinâmica de descartar os velhos paradigmas sem destruir a literatura etnográfica e os dados empíricos, ainda que relidos em outros crivos, na qual estão embutidos. Portanto, a leitura retrospectiva de trabalhos anteriores em antropologia africana (sejam rotulados como clássicos ou não) continua valiosa e necessária. As etnografias que são percebidas hoje como teoricamente inaceitáveis geralmente tinham como autores as únicas testemunhas de um determinado momento da história local. Esses textos foram, muitas vezes, as primeiras tentativas de entender os fenômenos sociais a partir de uma perspectiva integrada e consistente. Eles ensinaram a gerações de acadêmicos as “tradições” da investigação antropológica e uma maneira específica de pensar sobre as relações humanas, embora contaminada por equívocos culturais, falhas teóricas e influenciada por relações de poder. Ainda que as interpretações mudem, as observações detalhadas nas quais elas se baseiam são insubstituíveis. E se é assim ao olharmos para o passado, assim o será no olhar do futuro para nós, o presente do trabalho etnográfico.
Não há melhor exemplo dessa dinâmica – de que abordagens relacionais e modelos teóricos mudam, mas um rico corpo de conhecimento etnográfico é acumulado – do que os trabalhos realizados em contextos africanos pela antropologia. Leitores sérios de etnografias do passado sabem exatamente como ler na contramão, para além da grande teoria da época, destacar a essência do trabalho etnograficamente fundamentado e colocá-lo em diálogo com as preocupações atuais.
O presente dossiê convida pesquisadoras/es a refletir a partir da perspectiva de que seria difícil aprender sobre cenários de pesquisa localizados na África subsaariana sem se envolver com as muitas etnografias que construíram a disciplina. Incentivamos os/as colaboradores/as a desenvolver esse diálogo a partir da perspectiva de suas pesquisas etnográficas. Por que precisamos desse diálogo? O que mantemos dos trabalhos anteriores, o que decidimos “jogar fora” e por quê? Como enquadramos, coletivamente, o campo da antropologia na/da África hoje, ao entrarmos nesses diálogos a partir de novos lugares (gênero, etnia, nacionalidade, raça, idade)? Que marcas disciplinares deixaremos para nossos/as futuros/as leitores/as? Como refletimos sobre as novas relações hierárquicas, enquanto as do passado podem ter sido superadas? Essas são algumas das perguntas que tal edição especial abordará.
Datas importantes:
• Divulgação da chamada e Submissão dos artigos: 1 de dezembro/2024 – 30 de junho/2025
• Atribuição e Finalização dos pareceres: julho – outubro/2025
• Ajustes e entrega das versões finais dos artigos: outubro – dezembro/2025
• Entrega dos textos: janeiro/2026
• Editoração: fevereiro a junho/2026
– Publicação do dossiê: julho/2026
Call for Papers – Rethinking the legacy of anthropology in the study of Africa
Organizers
Andréa Lobo, Brazil, UnB Anaïs Menard, Belgium, KULeuven Kezia Aryeetey, Ghana, Max Planck Institute for Social Anthropology
The anthropology of African cultures and societies has been at the heart of theoretical and methodological developments of anthropology since its inception. Over the decades, the discipline has been constantly rethought, as have the scenarios it sets out to understand. Moreover, the field of African anthropology has seen a growing presence of researchers beyond the recognized centres of theory production in Europe and the United-States.
Both in African countries and from a Latin American perspective, notably by Brazilian anthropologists, anthropological approaches on/in African contexts have developed in new and distinctive ways, in critical dialog with the mirages and images associated with the classics of the discipline. In particular, these scholars have built disciplinary dialogues that address the diversity and complexity of modern African contexts and acknowledge (albeit critically) the effects of the history of anthropology on the present and future of the field of study (See Mudimbe 1988, 1990; Trajano Filho 2002; Moutinho, Trajano Filho and Lobo 2017). While postcolonial approaches have enabled researchers to examine the unequal relationships that have structured the production of anthropological knowledge in the past, recent decolonial approaches also allows them to think through this legacy by addressing power relations in a more systemic way (see Deridder, Ménard and Eyebiyi 2022).
Given this diversity of perspectives and the complexity of ethnographic debates and theoretical perspectives shaping contemporary studies, we are proposing this special issue with the aim of inviting anthropologists conducting research on/in African contexts, particularly in sub-Saharan Africa, to reflect on the basis of their ethnographic research, on the theoretical and methodological continuities and discontinuities with our discipline’s past
With methodological tools that owe much to the postmodern and reflexive turns, scholars in anthropology now turn to the canons of the discipline as products of an era. They are able to trace the themes in vogue, the theoretical approaches, the origins and genders of the researchers, as well as the historical contexts and scientific paradigms that have shaped the relationships between researchers and the people they worked with. With the postcolonial, postmodern and decolonial debates, each of these constituent elements of classic theories came under such critical scrutiny that the structures of the discipline themselves seemed to collapse. The ‘end of anthropology’ has become a recurring debate in academia (see Jebens and Kohl 2011), not only due to its historical development linked to colonialism, but also because the discipline needs to adapt its methodology and epistemology to volatile conditions shaped by globalization, migration and the predicament of so-called ‘modernity’ – a challenge that anthropologists have collectively (and brilliantly) met so far despite self-criticism.
The drive towards more reflexivity in anthropology also has changed the way researchers read and analyse texts. The themes, theoretical approaches, paradigms and, above all, the places from where anthropologists speak (and read) have changed: national origins, gender, race, social class and generation – all these elements play a role in shaping a new reflexive and epistemological framework. As researchers reflect on past work from their own individual lens, they also ‘reshape’ or ‘reinvent’ the discipline in line with today’s canons.
What do these changes reflect in the anthropology produced on/in Africa today? What are the ruptures and continuities? What dialogues can we establish with our anthropological ancestors and what contributions can we make from these dialogues? What lessons have we learned, collectively, from the early anthropological enterprise on the African continent? What are the discussions about Africa between contemporary anthropologists and authors from other disciplines (sociology, political science, international relations, political ecology, philosophy, comparative literature, among others)? Concomitantly, how can we maintain the specificity of the discipline in the light of its past contributions? Along with Ingold (2008), it is important to keep in mind that anthropology is not ethnography. While ethnographic description is part of its core, anthropology cannot be limited to localised ethnographies. Anthropology aims at understanding and theorizing human relations and societies as a set of imbricated, integrated phenomena. In the field, it requires acquiring cultural (and linguistic) competence and uncovering the implicit in social life by acute long-term observation. Therefore, at a time when ‘ethnographic data collection’ is emerging as a skill to acquire in many social sciences, anthropology needs to revisit critically its contribution to the understanding of human beings and social life. This special issue, thus, invites us to take a closer look at the contemporary contribution of the discipline, as it has evolved in relation to knowledge on/in Africa.
As Sally Falk Moore (1994) writes, each new generation of anthropologists sees itself as transcending the erroneous and crude conceptions of a previous group, as more self-aware, as seeing the world more clearly. Some of this self-congratulation, although often excessively laden with vanity, is generally well-founded. The rationale of science is based on the premise of renewal. It is by the process of rejecting those who have gone before us and proposing alternative structures that we advance the field of study forward and renew ourselves.
However, despite the talk of radical ruptures, what seems to remain after the successive “great turns” is the dynamic of discarding the old paradigms without destroying the ethnographic literature and empirical data, even if they are re-read through other screens, into which they are integrated. Therefore, the retrospective reading of previous works in African anthropology (whether labelled as ‘classics’ or not) remains valuable and necessary. Ethnographies that are seen today as theoretically unacceptable were written by authors who were witnesses of a particular moment in local history. These texts were often the first attempts at understanding social phenomena from an integrated, consistent perspective. They have taught generations of scholars the ‘traditions’ of anthropological inquiry and a specific way of thinking about human relations, albeit one tainted by cultural misconceptions, theoretical flaws and biased by power relations. Although interpretations change, the detailed observations on which they are based are irreplaceable. And if this is the case when we look to the past, it will be the case when we look to the future, the present of ethnographic work.
There is no better example of this dynamic – relational approaches and theoretical models change, but a rich body of ethnographic knowledge is being accumulated – than the work of anthropology carried out in African contexts. Serious readers of ethnographies from the past know exactly how to read against the grain, beyond the grand theory of the time, highlight the essence of ethnographically-grounded work and put it in dialog with current concerns.
This special issue invites researchers to reflect on the premise that it would be difficult to craft research scenarios in sub-Saharan Africa without engaging with the many ethnographies that have built the discipline. We encourage contributors to develop this dialogue from the perspective of their ethnographic research. Why do we need this dialogue? What do we keep from earlier works, what do we decide to ‘leave aside’ and why? How do we frame, collectively, the field of anthropology on/in Africa today, as we enter these dialogues from new places (gender, ethnic, national, racial, age)? What disciplinary marks will we leave for our future readers? How do we reflect on new hierarchical relationships, while past ones may have been overcome? These are some of the questions which the special issue will address.
References:
Deridder, M., Ménard A. and E. Eyebiyi. 2022. “Presentation. Hierarchies in knowledge production and power relations in academic postcolonial settings: investigating decolonial and feminist praxis“, Recherches Sociologiques et Anthropologiques 53(2): 35–66.
Ingold, T. 2008. “Anthropology is Not Ethnography.” Proceedings of the British Academy 154: 69–92.
Jebens H. and Kohl, K.-H. 2011. The end of anthropology? London, England: Sean Kingston.
Moore, Sally F. 1994. Anthropology and Africa: Changing perspectives on a changing scene. Charlottesville: University Press of Virginia.
Moutinho, L., Filho, W. T., & Lobo, A. 2017. Olhares Cruzados para a África: trânsitos e mediações – Algumas reflexões. Revista de Antropologia 60(3), 7–25.
Mudimbe, V. Y. 1988. The invention of Africa: Gnosis, philosophy, and the order of knowledge.
Mudimbe, V. Y. 1990. Which Idea of Africa? Herskovits’s Cultural Relativism, October 55, 93-104.
Trajano Filho, W. 2002. Narratives of national identity in the Web. Etnográfica 6(1), 141-158.
Important dates:
-Publicity of the call and Submission of articles: 1 December/2024 – 30 June/2025. -Assignment and finalization of opinions: July – October/2025 -Adjustments and submission of the final versions of the articles: October – December/2025 -Delivery of texts: January/2026. – Editing and final adjustments: February to June/2026 – Publication of the Dossier: July/2026
Appel à contributions – Repenser l’héritage de l’anthropologie dans l’étude de l’Afrique
Organisatrices
Andréa Lobo, Brazil, UnB Anaïs Menard, Belgium, KULeuven Kezia Aryeetey, Ghana, Max Planck Institute for Social Anthropology
L’anthropologie des cultures et des sociétés africaines est au cœur des développements théoriques et méthodologiques de l’anthropologie depuis ses débuts. Au fil des décennies, la discipline a été constamment repensée, tout comme les scénarios qu’elle cherche à comprendre. De plus, le champ de l’anthropologie africaine a vu une présence croissante de chercheurs au-delà des centres reconnus de production théorique en Europe et aux États-Unis.
Que ce soit dans les pays africains ou dans une perspective latino-américaine, notamment par des anthropologues brésiliens, les approches anthropologiques des contextes africains se sont développées de manière nouvelle et distinctive, dans un dialogue critique avec les mirages et les images associés aux classiques de la discipline. En particulier, ces chercheurs ont construit des dialogues disciplinaires qui abordent la diversité et la complexité des contextes africains modernes et reconnaissent (bien que de manière critique) les effets de l’histoire de l’anthropologie sur le présent et l’avenir du domaine d’étude (voir Mudimbe 1988, 1990 ; Trajano Filho 2002 ; Moutinho, Trajano Filho et Lobo 2017). Si les approches postcoloniales ont permis aux chercheurs d’examiner les relations inégales qui ont structuré la production du savoir anthropologique dans le passé, les approches décoloniales récentes leur permettent également de réfléchir à cet héritage en abordant les relations de pouvoir de manière plus systémique (voir Deridder, Ménard et Eyebiyi 2022).
Devant cette diversité de perspectives et la complexité des débats ethnographiques et des perspectives théoriques qui façonnent les études contemporaines, nous proposons ce numéro spécial dans le but d’inviter les anthropologues menant des recherches sur/en contextes africains, en particulier en Afrique subsaharienne, à réfléchir sur les fondements de leurs recherches ethnographiques, sur les continuités et discontinuités théoriques et méthodologiques avec le passé de notre discipline.
Avec des outils méthodologiques qui doivent beaucoup au tournant postmoderne et réflexif, les chercheurs en anthropologie se tournent aujourd’hui vers les canons de la discipline en tant que produits d’une époque. Ils sont en mesure de retracer les thèmes en vogue, les approches théoriques, les origines et le genre des chercheurs, ainsi que les contextes historiques et les paradigmes scientifiques qui ont façonné les relations entre les chercheurs et les personnes avec lesquelles ils travaillaient. Avec les débats postcoloniaux, postmodernes et décoloniaux, chacun de ces éléments constitutifs des théories classiques a été soumis à un examen critique tel que les structures de la discipline elle-même ont semblé s’effondrer. La « fin de l’anthropologie » est devenue un débat récurrent dans le monde universitaire (voir Jebens et Kohl 2011), non seulement en raison de son développement historique lié au colonialisme, mais aussi parce que la discipline doit adapter sa méthodologie et son épistémologie aux conditions volatiles façonnées par la mondialisation, la migration et le contexte complexe de ce qu’on appelle la « modernité » – un défi que les anthropologues ont collectivement (et brillamment) relevé jusqu’à présent en dépit de l’autocritique.
La tendance à une plus grande réflexivité en anthropologie a également modifié la manière dont les chercheurs lisent et analysent les textes. Les thèmes, les approches théoriques, les paradigmes et, surtout, les lieux d’où les anthropologues parlent (et lisent) ont changé : origines nationales, sexe, race, classe sociale et génération – tous ces éléments jouent un rôle dans la formation d’un nouveau cadre réflexif et épistémologique. Lorsque les chercheurs réfléchissent à leurs travaux antérieurs à partir de leur propre point de vue, ils « remodèlent » ou « réinventent » également la discipline en fonction des canons d’aujourd’hui.
Que reflètent ces changements dans l’anthropologie produite sur/dans l’Afrique aujourd’hui ? Quelles sont les ruptures et les continuités ? Quels dialogues pouvons-nous établir avec nos ancêtres anthropologues et quelles contributions pouvons-nous apporter à partir de ces dialogues ? Quelles leçons avons-nous tirées, collectivement, des premières entreprises anthropologiques sur le continent africain ? Quelles sont les discussions sur l’Afrique entre les anthropologues contemporains et les auteurs d’autres disciplines (sociologie, sciences politiques, relations internationales, écologie politique, philosophie, littérature comparée, entre autres) ? Parallèlement, comment maintenir la spécificité de la discipline à la lumière de ses contributions passées ? Comme Ingold (2008), il est important de garder à l’esprit que l’anthropologie n’est pas synonyme d’ethnographie. Bien que la description ethnographique soit au cœur de la discipline, l’anthropologie ne peut se limiter à des ethnographies localisées. L’anthropologie vise à comprendre et à théoriser les relations humaines et les sociétés comme un ensemble de phénomènes imbriqués et intégrés. Sur le terrain, elle exige l’acquisition de compétences culturelles (et linguistiques) et la découverte de l’implicite dans la vie sociale par une observation pointue de long terme. Par conséquent, à l’heure où la « collecte de données ethnographiques » apparaît comme une compétence à acquérir dans de nombreuses sciences sociales, l’anthropologie doit revoir d’un œil critique sa contribution à la compréhension des êtres humains et de la vie sociale. Ce numéro spécial nous invite donc à examiner de plus près la contribution contemporaine de la discipline, telle qu’elle a évolué en relation avec les connaissances sur l’Afrique.
Comme l’écrit Sally Falk Moore (1994), chaque nouvelle génération d’anthropologues se considère comme transcendant les conceptions erronées et grossières du groupe précédent, comme plus consciente d’elle-même, comme voyant le monde plus clairement. Une partie de cette autosatisfaction, bien que souvent excessivement chargée de vanité, est généralement bien fondée. La raison d’être de la science repose sur le principe du renouvellement. C’est en rejetant ceux qui nous ont précédés et en proposant des structures alternatives que nous faisons avancer le domaine d’étude et que nous nous renouvelons.
Cependant, malgré le discours sur les ruptures radicales, ce qui semble subsister après les « grands tournants » théoriques successifs, c’est la dynamique d’élimination des anciens paradigmes sans détruire la littérature ethnographique et les données empiriques, même si elles sont relues à travers d’autres prismes, dans lesquels elles sont intégrées. Par conséquent, la lecture rétrospective des travaux antérieurs en anthropologie africaine (qu’ils soient qualifiés de « classiques » ou non) reste précieuse et nécessaire. Des ethnographies considérées aujourd’hui comme théoriquement inacceptables ont été écrites par des auteurs témoins d’un moment particulier de l’histoire locale. Ces textes ont souvent constitué les premières tentatives de compréhension des phénomènes sociaux dans une perspective intégrée et cohérente. Ils ont enseigné à des générations de chercheurs les « traditions » de l’enquête anthropologique et une manière spécifique de penser les relations humaines, bien qu’entachée d’idées fausses sur le plan culturel, de lacunes théoriques et biaisée par les relations de pouvoir. Bien que les interprétations changent, les observations détaillées sur lesquelles elles se fondent sont irremplaçables. Et s’il en est ainsi lorsque nous regardons vers le passé, il en sera de même lorsque nous regarderons vers l’avenir, à savoir le présent du travail ethnographique.
Il n’y a pas de meilleur exemple de cette dynamique – les approches relationnelles et les modèles théoriques changent, mais un riche corpus de connaissances ethnographiques s’accumule – que le travail d’anthropologie réalisé dans les contextes africains. Les lecteurs sérieux d’ethnographies passées savent exactement comment lire à contre-courant, au-delà de la grande théorie de l’époque, mettre en évidence l’essence du travail ethnographique et le mettre en dialogue avec les préoccupations actuelles.
Ce numéro spécial invite les chercheurs à réfléchir à l’idée qu’il serait difficile d’élaborer des scénarios de recherche en Afrique subsaharienne sans s’appuyer sur les nombreuses ethnographies qui ont construit la discipline. Nous encourageons les contributeurs à développer ce dialogue du point de vue de leur recherche ethnographique. Pourquoi avons-nous besoin de ce dialogue ? Que gardons-nous des travaux antérieurs, que décidons-nous de « laisser de côté » et pourquoi ? Comment encadrons-nous, collectivement, le champ de l’anthropologie en Afrique aujourd’hui, alors que nous entamons ces dialogues à partir de nouveaux lieux (genre, ethnie, nationalité, race, âge) ? Quelles marques disciplinaires laisserons-nous à nos futurs lecteurs ? Comment réfléchir aux nouvelles relations hiérarchiques, alors que les anciennes ont pu être dépassées ? Telles sont quelques-unes des questions que ce numéro spécial souhaite aborder.