Organizadoras:
Carla Costa Teixeira[1] (UnB/LEIPP) – carla@unb.br
Emma Crewe[2] (SOAS/GRNPP) – ec15@soas.ac.uk
Cristiane Brum Bernardes[3] (CEFOR/INCT-DD/GRNPP) – cris.brum@gmail.com
Fazer etnografia em centros de poder é um desafio cuja complexidade muitos cientistas sociais, incluindo antropólogos, têm buscado solucionar.[4] Os problemas tradicionais derivados da inserção do antropólogo no seu ambiente de estudo e análise tornam-se mais agudos ou distintos quando nos voltamos para as instituições ou organizações sociais que constituem os centros de poder, ou seja, que têm por “missão” a governança administrativa, econômica, legislativa, política ou de arbitragem jurídica.
Nesses contextos, seja dentro ou fora do Estado, ou mesmo nos limites confusos do Estado e da sociedade, os etnógrafos interessam-se pelas perspectivas daqueles que são responsáveis por dar vida cotidianamente às práticas e valores institucionais e pela forma que atuam em meio a configurações de poder. Têm de desenvolver estratégias de investigação subtis para compreender: a diversidade internas a e entre diferentes grupos e os conflitos que isso gera; os pontos de vista em disputa e a forma como são comunicados; as regras formais e informais que limitam as possibilidades de ação dos diferentes atores e grupos; a opacidade das relações legitimadas pelas hierarquias; os ritmos de trabalho que requerem uma navegação individual e grupal do tempo e do espaço; e as causas da eficiência/ineficiência estatal ou institucional. Acima de tudo, os etnógrafos aproximam-se para estudar estes elementos mas também, ao longo do tempo, criam uma visão distanciada dos padrões sócio-políticos que permitem uma reflexão sobre estes ambientes como espaços de produção de significados sempre em disputa, mas sob a aparência de fixidez projetada pela temporalidade alargada das instituições.
Dessa perspectiva, as organizadoras deste dossiê convidam investigadores/as de todo o mundo que tenham realizado investigação etnográfica sobre instituições políticas a qualquer nível de qualquer país (local, regional, nacional, internacional) e pontuam algumas provocações para os possíveis interessados em submeter propostas de trabalho:
- Como fazer etnografia nesse tipo de configuração espaço-temporal? Quais estratégias deve utilizar o antropólogo ou outro cientista social para obter seus dados e desenvolver sua pesquisa? Como podem os documentos[5], artefactos centrais para as instituições de governação, ser vistos como enredados nas relações sociais, culturais e políticas no âmbito de uma investigação mais ampla?
- Como ultrapassar as fronteiras, por vezes denominadas “barreiras”, que tão zelosamente diferentes instituições trabalham para preservar? Em que medida as dificuldades de fazer trabalho de campo no contexto das instituições, embora sejam reais, podem ser abordadas como expressões do modo como estes mundos sociais são estruturados, veem a si próprios, aos pesquisadores, mas também, são fruto da forma como nós pesquisadores os vemos? Quais as consequências epistemológicas que resultam das diferentes soluções ético-metodológicas realizadas ao longo do processo de pesquisa?
- Considerando os estudos antropológicos (e similares) em diferentes espaços institucionais, enfatizamos a exploração dos órgãos deliberativos legislativos e parlamentares, instâncias judiciárias e instituições governamentais centrados nos temas que os constituem: os seus rituais e rotinas, línguas institucionais, gestão de artefactos técnicos e políticos em disputas de significado, usos de funções linguísticas distintas, práticas de construção de identidades públicas, os seus espaços públicos e privados, relações com atores dos media, constituintes ou lobistas, atuação em espaços digitais, etc. Quais são os pontos comuns e as diferenças entre os diferentes grupos envolvidos nas instituições políticas?
- Por fim, incitamos também à reflexão sobre contextos burocrático-administrativos distintos na busca de adensar a compreensão dos itinerários de produção e manejos das políticas de governo em suas dimensões materiais, práticas e simbólicas.
Data final para submissão de artigos
30 de junho de 2022
Para orientações, clique aqui.
Call for Papers: Dossier “Ethnography of Governance Institutions”
Editors
Carla Costa Teixeira[i] (UnB/LEIPP) – carla@unb.br
Emma Crewe[ii] (SOAS/GRNPP) – ec15@soas.ac.uk
Cristiane Brum Bernardes[iii] (CEFOR/INCT-DD/GRNPP) – cris.brum@gmail.com
Ethnography in centers of power presents complex challenges that social scientists, including anthropologists, have sought to explore.[iv] Some of the traditional problems that emerge when anthropologists and others insert themselves into an environment of study and analysis, can become amplified when they turn to the institutions or social organizations that constitute centers of power, that is, that have as their “mission” the administrative, economic, legislative, political or legal arbitration governance.
In these contexts, whether within or outside of the state, or even in the blurry boundaries of state and society, ethnographers get interested in the perspectives of those who are responsible for everyday institutional practices and values and how people act in the midst of power configurations. They have to develop subtle research strategies to understand: the diversity within and between different groups and the conflicts this generates; points of view in dispute and how they are communicated; the formal and informal rules that constrain the possibilities of action for the different actors and groups; the opacity of relations legitimized by hierarchies; the rhythms of work that require individual and group navigation of time and space; and the causes of state or institutional efficiency/inefficiency. Above all, ethnographers get close up to study these elements but also, over time, create a detached view of socio-political patterns that allow a reflection on these environments as spaces of the production of meanings always in dispute but under the appearance of fixity projected by the extended temporality of institutions.
We invite contributions from researchers from around the world who have undertaken ethnographic research on political institutions at any level of any country: local, regional, national, international. This dossier, or special issue, will have 8-12 articles. We point to some provocations for those interested in submitting work proposals:
- How to do ethnography in this type of space-time configuration? What strategies should the anthropologist or other social scientist use to get the data and develop the research? How can documents,[v] central artifacts to governance institutions, be view as entangled in social, cultural and political relations within a broader investigation?
- How can we cross the borders, sometimes called “barriers”, which different institutions work so zealously to preserve? To what extent can the difficulties of accessing, doing fieldwork in and writing about these institutions, although real, be addressed as expressions of how their social worlds are structured and see themselves, but are also the fruit of the way we (researchers) see them? What are the epistemological consequences that result from different ethical-methodological solutions performed throughout the research process?
- Considering anthropological (and linked) studies in different institutional spaces, we emphasize the exploration of legislative and parliamentary deliberative bodies, judiciary and governmental institutions focusing on the subjects that constitute them: their rituals and routines, institutional languages, management of technical and political artifacts in disputes of meaning, uses of distinct language functions, practices of construction of public identities, its public and private spaces, relationships with media actors, constituents or lobbyists, performance in digital spaces, etc. What are the commonalities and differences between the different groups involved in political institutions?
- Finally, we also encourage reflection on distinct bureaucratic-administrative contexts to deepen the understanding of production itineraries and management of government policies in their material, practical and symbolic dimensions.
Submission Final Date
June 30, 2022
For article submission guidelines, click here.
[i] Professor, Department of Anthropology, and the Graduate Program in Social Anthropology (PPGAS) of the University of Brasília (UnB). Deputy Director of the Institute of Social Sciences (UnB). General Secretary of the Brazilian Association of Anthropology (ABA) 2021-2022. Coordinator of the Research Group “Ethnography of Institutions and Power Practices” and “Health Political Anthropology”, both registered at CNPq. Coordinator of the Laboratory of Ethnography of Institutions and Power Practices (LEIPP/UnB).
[ii] Professor and Researcher, Department of Anthropology, SOAS (University of London) and University of Hertfordshire (UK). Director of the Global Research Network on Parliaments and People (GRNPP). Chair of the Senate, School of Oriental and African Studies (SOAS). Principal Investigator of the European Research Council funded Project: “A Global Comparative Ethnography of Parliaments, Politicians and People: representation, relationships and ruptures”.
[iii] Professor and Researcher, Master in Legislatures, CEFOR (Brazilian Chamber of Deputies). Member of the Brazilian National Institute in Digital Democracy (INCT-DD), the Global Research Network on Parliaments and People (GRNPP) and the Laboratory of Ethnography of Institutions and Power Practices (LEIPP/UnB). Research Associate at the Department of Anthropology (SOAS/ University of London) and Brazilian main investigator of the European Research Council funded Project: “A Global Comparative Ethnography of Parliaments, Politicians and People: representation, relationships and ruptures”.
[iv] For examples, see S. YBema, D. Yanow, H. Wels, and F. Kamsteeg, 2009, Organizational Ethnography, London, Sage; C. Shore, S. Wright and D. Pero, 2011, Policy Worlds, Berhahn, New York; J. Abbink and T. Salverda 2013, The Anthropology of Elites, Basingstoke, Palgrave Macmillan, T. Berschenk and J-P Olivier de Sardan 2014, States at Work, Leiden, Brill; E Crewe 2021, Anthropology of Parliaments, London, Routledge; and the Journal of Organizational Ethnography.
[v] See A. Riles, 2006, Documents: Artifacts of Modern Knowledge, Ann Arbor, University of Michigan Press.
[1] Professora Titular do Departamento de Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade de Brasília. Vice-Diretora do Instituto de Ciências Sociais (UnB). Secretária Geral da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) 2021-2022. Coordenadora do Grupo de pesquisa “Etnografia das instituições e das Práticas de Poder”, do Laboratório de Etnografia das Instituições e Práticas de Poder (LEIPP), e do Grupo de Pesquisa “Antropologia Política da Saúde”, registrados no CNPq.
[2] Professora e Pesquisadora do Departamento de Antropologia da SOAS (Universidade de Londres) e da Universidade de Hertfordshire (Reino Unido). Diretora da Rede Global de Pesquisa em Parlamentos e Cidadãos (GRNPP). Presidente do Colegiado da Escola de Estudos Orientais e Africanos (SOAS) da Universidade de Londres. Coordenadora do projeto “Etnografia Comparada Global de Parlamentos, Políticos e Pessoas: representação, relacionamentos e rupturas”.
[3] Professora e Pesquisadora do Mestrado em Poder Legislativo do CEFOR (Câmara dos Deputados). Integrante do INCT em Democracia Digital (INCT-DD), da Rede Global de Pesquisa em Parlamentos e Cidadãos (GRNPP) e do Laboratório de Etnografia das Instituições e Práticas de Poder (LEIPP). Pesquisadora associada do Departamento de Antropologia da SOAS (Universidade de Londres) e do projeto “Etnografia Comparada Global de Parlamentos, Políticos e Pessoas: representação, relacionamentos e rupturas”.
[4] Ver, por exemplo, S. YBema, D. Yanow, H. Wels, and F. Kamsteeg, 2009, Organizational Ethnography, London, Sage; C. Shore, S. Wright and D. Pero, 2011, Policy Worlds, Berhahn, New York; J. Abbink and T. Salverda 2013, The Anthropology of Elites, Basingstoke, Palgrave Macmillan, T. Berschenk and J-P Olivier de Sardan 2014, States at Work, Leiden, Brill; E Crewe 2021, Anthropology of Parliaments, London, Routledge; and the Journal of Organizational Ethnography.
[5] Ver A. Riles, 2006, Documents: Artifacts of Modern Knowledge, Ann Arbor, University of Michigan Press.