Chamada para dossiê: Ampliação dos horizontes da compreensão antropológica: etnografias com “alteridades desconfortáveis”

Editores/as de organização

  • Marco J. Martínez-Moreno (akkmjm@gmail.com)
    Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Sobre a língua de publicação e número de artigos previstos
Serão aceitos até 12 trabalhos em espanhol ou inglês.

Datas importantes

  • Divulgação da chamada e Submissão dos artigos:
    01 de Junho/2023 – 31 de Janeiro/2024
  • Atribuição e Finalização dos pareceres:
    Fevereiro – Abril/2024
  • Ajustes e entrega das versões finais dos artigos:
    Maio – Junho/2024
  • Entrega dos textos:
    Julho – agosto/2024
  • Publicação estimada:
    Até 10 de dezembro de 2024

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Chamada para artigos

A tarefa política da Antropologia na América Latina desde os anos 1970 é clara: participar das lutas pela cidadania das chamadas minorias nos Estados nacionais, particularmente diante de vários cenários de conflito social e violência que implicam o reconhecimento dos seus Direitos Humanos. O “pesquisador-cidadão”, caracterizado por Jimeno (2018), tem endossado as causas dos movimentos sociais de reivindicações indígenas, afrodescendentes, camponesas, feministas e LGBTQ+, entre outras. Cidadãos- antropólogos, de mãos dadas com lideranças comunitárias, também mobilizaram a formulação de políticas públicas e metodologias de pesquisa, consolidando agendas colaborativas de pesquisa e ação participativa. Essas práticas acadêmicas fazem parte de uma economia de produção de conhecimento na qual é possível distinguir uma moralidade e uma ética baseadas no individualismo ético (Dumont 1985). O anterior pressupõe um valorizado exercício de “empatia” durante o trabalho de campo para a constituição do vínculo etnográfico e a consequente visibilidade das reivindicações políticas dos movimentos sociais, das minorias e, em última análise, dos interlocutores excluídos, subalternos ou marginalizados.

Nessa pauta, então, se configurou uma tríade de personagens: o antropólogo-cidadão, seus interlocutores (cuja causa é abraçada) e uma alteridade cujas práticas de poder a colocam como abjeta. Isto é, sua localização nas relações sociais, crenças religiosas, identificações políticas, práticas sexuais ou background cultural/patriarcal, geram profundo desconforto e irritação na comunidade de antropólogos, dificultando seu acompanhamento e caracterização. Obras como as de Harding (1991), Robben (1996), Borneman (2015), Shoshan (2016a e b), Forero Angel (2017, 2022), Martínez-Moreno (2018, 2022), Pinheiro- Machado e Scalco ( 2021), Faust e Pfeifer (2022) e Robben e Hinton (2023), entre outros, dão conta de processos históricos, princípios cosmológicos, configurações sociais da pessoa, agências e modos de criação e manutenção de relações sociais e identidades que tensionam critérios sobre uma humanidade compartilhada, a fronteira legal entre agressor e vítima e distinções entre o bem e o mal. Em suma, essas obras não se enquadram nos projetos habituais da Antropologia, que apontam para a visibilidade de sujeitos e agentes oprimidos, subversivos, que buscam a emancipação ou o reconhecimento de seu sofrimento (Mahmood 2001; Robbins 2013; Ortner 2016).

Por outro lado, ao refletir sobre os desafios teóricos, metodológicos, morais, emocionais e éticos da constituição de um vínculo intersubjetivo durante o trabalho de campo e dar conta da densidade, nuances e profundidade das “alteridades desconfortáveis” (perpetradores de diferentes tipos de violência, abusadores sexuais, militantes de direita, simpatizantes do fascismo e do nazismo, agentes religiosos e forças policiais e militares, entre outros), a apresentação pública de tais investigações desperta reações de desaprovação no público acadêmico e não acadêmico. Como destacam os autores supracitados, muitas vezes acusando o antropólogo de ser cúmplice das práticas estudadas, estabelecendo um vínculo claro entre a compreensão dos aspectos obscuros desse outro desconfortável e a contaminação moral da disciplina. É importante destacar que, nas obras supracitadas, os pesquisadores não abandonam ou corrompem seu universo moral, que coincide com o do cidadão-antropólogo. Elas abrem, sim, um debate em que o “desconforto” é ponto de partida para ampliar os horizontes epistemológicos, éticos e políticos da disciplina antropológica, na sua tarefa de caracterizar a complexidade dos fenômenos e problemas sociais dos quais necessariamente participam categorias que carregam uma abjeção.

Nos últimos anos, assistimos à reorganização mundial de poderosos vetores conservadores, populistas e de extrema direita, apoiados por militares e policiais e em aliança com setores econômicos neoliberais, meios de comunicação e grupos religiosos em variadas escalas de organização social. Essas categorias estabelecem argumentos sólidos contra os Direitos Humanos, criticam a produção científica e universitária, legitimam práticas violentas e autoritárias contra minorias e, em última instância, desestabilizam uma narrativa sobre progresso e emancipação humana da qual a Antropologia participa.

Diante desse panorama, buscamos neste dossiê reunir produções que contribuam para a ampliação de horizontes reflexivos na problematização teórico-metodológica do lugar das categorias sociais protagonistas em contextos de violência, criam as condições para a manutenção de estruturas de iniquidade e subordinação; ou fazem parte do espectro de identidades políticas que relativizam o valor da pessoa humana, formalizam regimes de exceção e projetam futuros distópicos e antidemocráticos. Procuramos compilar artigos, balanços bibliográficos ou ensaios fotográficos que deem conta de experiências etnográficas de trabalho de campo com alteridades incômodas, problematizem questões de método ou remetam a inovações teóricas, problemas éticos e a receptividade pública de pesquisas por parte da comunidade de antropólogos, acadêmicos em geral e pesquisadores independentes.

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Dossier
Hacia la ampliación de horizontes de comprensión antropológica:

etnografías con “alteridades incómodas”

Convocatoria para artículos

La tarea política de la Antropología en América Latina desde los años 1970 ha sido clara: participar de las luchas por la ciudadanía de las así llamadas minorías en los Estados nacionales, particularmente ante variados escenarios de conflicto social y violencia que implican el reconocimiento de Derechos Humanos. El “investigador-ciudadano”, caracterizado por Jimeno (2018), ha hecho suyas las causas de movimientos sociales de reivindicación indígena, afrodescendiente, campesina, feminista y LGBTQ+, entre otras. Los antropólogos-ciudadanos, de la mano de los líderes de las comunidades, también movilizaron la creación de políticas públicas y de metodologías de investigación, consolidando así agendas de pesquisa y acción participante. Estas prácticas académicas hacen parte de una economía de producción de conocimiento en la cual es posible distinguir una moralidad y una ética pautada por el individualismo ético (Dumont 1985). Lo anterior presupone un valorizado ejercicio de “empatía” durante el trabajo de campo para la constitución del vínculo etnográfico y la posterior visibilidad de las demandas políticas de los movimientos sociales, minorías y, en última instancia, interlocutores excluidos, subalternos o marginalizados.

En esta agenda, entonces, se ha configurado una tríada de personajes: el antropólogo- ciudadano, sus interlocutores (cuya causa es abrazada) y una alteridad cuyas prácticas de poder la sitúan como abyecta. Es decir, su localización en las relaciones sociales, creencias religiosas, identificaciones políticas, prácticas sexuales o background cultural/patriarcal, generan un profundo malestar e irritación entre la comunidad de antropólogos/as, dificultando su acompañamiento y caracterización. Trabajos como los de Harding (1991), Robben (1996), Borneman (2015), Shoshan (2016a y b), Forero Angel (2017, 2022),

Martínez-Moreno (2018, 2022), Pinheiro-Machado y Scalco (2021), Faust y Pfeifer (2022) y Robben y Hinton (2023), entre otros, dan cuenta de procesos históricos, principios cosmológicos, configuraciones sociales de la persona, agencias y modos de creación y manutención de relaciones sociales e identidades que tensionan criterios acerca de una humanidad compartida, la frontera jurídica entre agresor y víctima y distinciones entre el bien y el mal. En suma, estos trabajos no se encajan en los proyectos usuales de la Antropología, que apuntan a la visibilidad de sujetos y agentes oprimidos, subversivos, que buscan la emancipación o el reconocimiento de su sufrimiento (Mahmood 2001; Robbins 2013; Ortner 2016).

De otro lado, al reflexionar sobre los desafíos teóricos, metodológicos, morales, emociones y éticos sobre la constitución de un vínculo inter-subjetivo durante el trabajo de campo y dar cuenta de la densidad, los matices y la profundidad de “alteridades incómodas” (perpetradores de distintos tipos de violencia, abusadores sexuales, militantes de derecha, simpatizantes del fascismo y el nazismo, agentes religiosos y de fuerzas policiales y militares, entre otros), la presentación pública de tales investigaciones despierta reacciones de desaprobación entre el público académico y no académico. Como resaltan los autores antes citados, muchas veces acusando al o la antropóloga de ser cómplice de las prácticas estudiadas, estableciendo un claro vínculo entre comprensión de aspectos obscuros del otro incómodo y contaminación moral de la disciplina. Es importante señalar que en los trabajos mencionados, los(as) investigadores(as) no abandonan, ni corrompen su universo moral, que coincide con el del antropólogo-ciudadano. Abren, sí, un debate en el cual la “incomodidad” es un punto de partida para ampliar los horizontes epistemológicos, éticos y políticos de la disciplina antropológica, en su tarea de caracterizar la complejidad de los fenómenos y problemas sociales en los que necesariamente participan categorías sociales que cargan una abyección.

En los últimos años, atestiguamos la reorganización mundial de poderosos vectores conservadores, populistas y de extrema derecha, apoyada por fuerzas militares y policiales y en alianza con sectores económicos neoliberales, medios de comunicación y grupos religiosos en diferentes escalas de organización social. Estas categorías establecen sólidos argumentos contra los Derechos Humanos, critican la producción científica y universitaria, legitiman prácticas violentas y autoritarias contra minorías y, en última instancia, desestabilizan una narrativa acerca del progreso y la emancipación humana de la cual participa la Antropología.

Ante este panorama, en este dossier buscamos reunir producciones que contribuyan a la expansión de horizontes reflexivos en la problematización teórica y metodológica del lugar de categorías sociales que protagonizan contextos de violencia, crean las condiciones para la manutención de estructuras de iniquidad y subordinación o hacen parte del espectro de identidades políticas que relativizan el valor de la persona humana, formalizan regímenes de excepción y proyectan futuros distópicos y antidemocráticos. Buscamos compilar artículos, balances bibliográficos o ensayos fotográficos que den cuenta de experiencias de trabajo de campo etnográfico con alteridades incómodas, problematicen cuestiones de método o hagan referencia a innovaciones teóricas, problemas éticos y la receptividad pública de las investigaciones por parte de la comunidad de antropólogos, académicos en general e investigadores independientes.

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Dossier

Towards the expansion of horizons of anthropological understanding:
ethnographies with “uncomfortable alterities”

Call for papers

The political task of Anthropology in Latin America since the 1970s has had a clear objective: to actively engage in the struggles for the rights of marginalized groups within national states, particularly in the face of social conflicts and violence that pertain to the recognition of Human Rights. The concept of the “citizen-researcher,” as described by Jimeno (2018), has emerged, with anthropologists aligning themselves with social movements advocating for indigenous rights, Afro-descendant rights, peasant rights, feminist rights, LGBTQ+ rights, and others. These citizen-anthropologists have collaborated with community leaders, mobilizing efforts to shape public policies and research methodologies, thereby solidifying research agendas and fostering participatory action. These academic practices are part of a knowledge production system characterized by a moral and ethical framework guided by ethical individualism (Dumont 1985). This framework assumes the practice of “empathy” during fieldwork, fostering an ethnographic connection and subsequently shedding light on the political demands of social movements, marginalized groups, and ultimately, excluded or subjugated individuals.

Within this agenda, a triad of key actors has been established: the anthropologist- citizen, their interlocutors (whose cause is embraced), and an alterity that is positioned as “abject.” In other words, this alterity, due to its social position, religious beliefs, political affiliations, sexual practices, or cultural and patriarchal background, generates profound discomfort and unease among the community of anthropologists, making it challenging to provide support and characterization. Works by authors such as Harding (1991), Robben (1996), Borneman (2015), Shoshan (2016a and b), Forero Angel (2017, 2022), Martínez-

Moreno (2018, 2022), Pinheiro-Machado and Scalco (2021), Faust and Pfeifer (2022), and Robben and Hinton (2023), among others, document historical processes, cosmological principles, social configurations of personhood, agencies, and the modes of establishing and maintaining social relations and identities. These works challenge existing notions of shared humanity, the legal boundaries between aggressor and victim, and distinctions between good and evil. Consequently, they deviate from the conventional projects of Anthropology that seek to expose the oppression faced by subversive subjects and agents striving for emancipation or the recognition of their suffering (Mahmood, 2001; Robbins, 2013; Ortner, 2016).

On the other hand, reflecting on the theoretical, methodological, moral, emotional, and ethical challenges involved in establishing an intersubjective connection during fieldwork, and accounting for the intricacies, nuances, and depth of “uncomfortable alterities” (such as perpetrators of different types of violence, sexual abusers, right-wing militants, fascism and Nazism sympathizers, religious agents, police, and military forces, among others), the public presentation of such research often elicits disapproval from both academic and non-academic audiences. As mentioned by the aforementioned authors, anthropologists are frequently accused of being complicit in the practices they study, thereby establishing a direct link between understanding obscure aspects of the uncomfortable other and contaminating the discipline with moral implications. It is important to note that the researchers mentioned above do not abandon or compromise their moral values, which align with those of the anthropologist-citizen. Rather, they initiate a debate in which “discomfort” serves as a starting point for broadening the epistemological, ethical, and political horizons of the anthropological discipline, as it strives to comprehend the complexity of social phenomena and problems that inevitably involve socially abject categories.

In recent years, we have witnessed a global reorganization marked by the rise of powerful conservative, populist, and extreme right-wing forces. These forces have found support from military and police entities, as well as alliances with neoliberal economic sectors, media outlets, and religious groups at various levels of social organization. They articulate compelling arguments against Human Rights, criticize scientific and academic production, legitimize violent and authoritarian practices targeting minority groups, and ultimately challenge the narrative of progress and human emancipation in which Anthropology actively participates.

Given this context, the purpose of this dossier is to bring together works that contribute to expanding the reflective horizons within the theoretical and methodological exploration of social categories that play significant roles in contexts of violence. These categories contribute to the perpetuation of inequitable structures and systems of subordination or are part of the spectrum of political identities that question the intrinsic value of human beings. Furthermore, they formalize exceptional regimes and project dystopian and antidemocratic futures. Our aim is to compile articles, bibliographic surveys, and photographic essays that document ethnographic fieldwork experiences involving uncomfortable alterities. Additionally, we seek to problematize methodological issues, explore theoretical innovations, address ethical challenges, and assess the reception of research by the anthropological community, as well as by academics and independent researchers at large.

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Referencias/References

BORNEMAN, John. Cruel Attachments. The Ritual Rehab of Child Molesters. Chicago: The University of Chicago Press,a pp. 96-159, 2015.

FAUST, Lene; PFEIFER, Simone. Dark Ethnography? Encountering the ‘Uncomfortable’ Other in Anthropological Research: Introduction to this Special Section. Zeitschrift für Ethnologie, Journal of Social and Cultural Anthropology 145(2):81-90

FORERO ANGEL, Ana María. El Coronel no tiene quien le escuche: una aproximación antropológica a las narrativas militares. Bogotá, Colombia: Ediciones Uniandes, 2017.

FORERO ANGEL, Ana María. Hablar sobre militares: emociones y biografía en la investigación etnográfica. In JACOBO, F.; MARTÍNEZ-MORENO, M.J. (Orgs.), Las emociones de ida y vuelta. Experiencia etnográfica, método y conocimiento antropológico. Ciudad de México: Universidad Nacional Autónoma de México, pp. 353-372, 2022.

HARDING, Susan. Representing Fundamentalism: The Problem of the Repugnant Cultural Other. Social Research 58(2): 373-393, 1991.

JIMENO, Myriam. Citizens and Anthropologist. In POOLE, D (Ed.), Companion to Latin American Anthropology. Hoboken: Wiley-Blackwell, pp. 72-89, 2018.

MAHMOOD, Saba. Feminist Theory, Embodiment, and the Docile Agent: Some Reflections on the Egyptian Islamic Revival. Cultural Anthropology, 16(2):202-236, 2001.

MARTÍNEZ-MORENO, Marco Julián. Civilizar a cultura. Questões de modernização e a afirmação da dignidade entre homens acusados de violência doméstica e familiar contra a mulher. Tesis de Doctorado en Antropología Social, Departamento de Antropología, Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Brasília, 2018.

MARTÍNEZ-MORENO, Marco Julián. “Cosas que no están escritas en el texto”: una exploración sobre la investigación antropológica con los violentos. In: JIMENO, M.; GÓNGORA, A.; MARTÍNEZ-MORENO, M. J. & OLMOS, A. (Eds.), Antropología, violencia y actores sociales en América Latina. Bogotá: Centro de Estudios Sociales, Universidad Nacional de Colombia, pp. 279-306, 2022.

ORTNER, Sherry. Dark Anthropology and Its Others: Theory since the Eighties. HAU: Journal of Ethnographic Theory 6(1):47–73, 2016.

PINHEIRO-MACHADO, Rosana; SCALCO, Lucia. Humanizing fascist? Nuance as an anthropological responsibility. Social Anthropology 29(2):329-372, 2021.

ROBBEN, Antonius. Ethnographic Seduction, Transference, and Resistance in Dialogues about Terror and Violence in Argentina. Ethos 24(1):71-106, 1996.

ROBBEN, Antonius; HINTON, Alexander. Perpetrators. Encountering Humanity’s Dark Side. Stanford: Stanford Univerity Press, 2023.

ROBBINS, Joel. Beyond the Suffering Subject: Toward an Anthropology of the Good. The Journal of the Royal Anthropological Institute 19(3):329-372, 2013.

SHOSHAN, Nitzan. Más allá de la empatía: la escritura etnográfica de lo desagradable. Nueva Antropología 83:147-162, 2016a.

SHOSHAN, Nitzan. El manejo del odio: nación, afecto y gobernanza de la derecha extrema en Alemania. Ciudad de México: El Colegio de México, 2016b.

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